Meridiano

Nos dias que antecederam o Dia Nacional da Poesia, em 2014, o grande poeta e compositor potiguar Roberto Lima de Souza, doutor em filosofia e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, meu amigo, lançou um desafio no Facebook aos poetas da terra.

O desafio seria responder ao poema por ele proposto, denominado “Meridiano”. Segue abaixo o poema:

MERIDIANO

Roberto Lima de Souza

O meridiano que se punha à minha frente
Multiplicava o limiar do noite-dia,
Mas não era senão o meu destino
Desafiando a força mágica que havia.

E eu ficava de frente a todo o meu destino
Com o estranho poder de que o reconhecia…
Mas não era senão a minha liberdade
Me crescendo, explodindo…
E eu mesmo não sabia…

Natal, 12 de março de 2014, pela manhã.

Confiando em nossa amizade e para provocar o amigo, não deixei sem resposta o desafio e produzi a seguinte redondilha:

Resposta ao poema “Meridiano”

Será meridiano liberdade,
Liberdade será meridiano?
Que pode acontecer na minha idade
Que já não esteja traçado como um plano?

O que de novo vem, da Eternidade,
Não previsto por Deus, caminho insano?
Será meridiano liberdade?
Liberdade será meridiano?

Se o limiar da noite é um novo dia,
É que o tempo parou, virou fumaça,
Porque a graça do tempo é correria
E fazê-lo parar, não há quem faça,

Por favor, conta outra fantasia,
Pra eu beber com esses goles de cachaça!
Se o limiar da noite é um novo dia
É que o tempo parou, virou fumaça.

E vem você falando da esperança
De um destino qualquer, peça mesquinha
Esse mito voraz, eterna dança
De bonecos e escravos, comezinha.

Pra fazer eu dormir, quando criança,
Quem me contou foi dona Carochinha.
E vem você falando da esperança
De um destino qualquer, peça mesquinha!

E o que dizer da mágica que havia
E foi desafiada em seu poema?
Terá sido somente uma ironia
Do poeta insistindo num só tema

Ou apenas uma frase, de agonia,
Pra não quebrar o verso, nem o esquema?
E o que dizer da mágica que havia
E foi desafiada em seu poema?

A liberdade, portanto, é dom divino
Testemunho fiel da Eternidade
Tinindo e retinindo como um sino
Que a alma bruta e tonta persuade

É um véu muito tênue, cristalino
De fé, de esperança, de bondade.
A liberdade, portanto, é dom divino
Testemunho fiel da Eternidade.

Lucimar Luciano de Oliveira
Natal, 12 de março de 2014
12:00 h.

Roberto publicou, pouco depois, um segundo poema, denominado “Meridiano II”. Ei-lo:

MERIDIANO II

Roberto Lima de Souza

Um simples meridiano
Essa linha imaginária
Da pura geografia
Tem força extraordinária,
Separa a noite do dia…

Mas um simples Meridiano
No infinito da poesia
Tem força extraordinária
Muito além da fantasia,
Pois pode multiplicar
Esse mero limiar
Em mil auroras por dia…

Só quem pode imaginar
Um meridiano assim
Que se põe à sua frente
Compreende que um jardim
Pode nascer da semente
Que tanto se multiplica
Que encanta a alma da gente…

Somente com o coração
È que se pode entender
Que um poema, uma canção
Podem também conceber
Que a liberdade, que é infinda,
É esse estranho poder
Que nos faz reconhecer
O que não se sabe ainda:
É o poder de se arriscar
Mergulho na escuridão
Para poder se encontrar
O brilho da claridão…

Toda aurora é novidade,
Sempre nova à nossa frente,
É fecunda de verdade,
Semeia luzes na gente
Só quem tem simplicidade
Essa beleza é que sente…

Essa é a beleza que canto
Tão simples nos versos meus:
O destino é esse escuro
Onde mergulho e encontro
As luzes que vêm de Deus…

Natal, 13 de março de 2014, pela manhã.

Respondi a esse poema com o soneto:

Verdadeiro Meridiano

Neste tempo de dor e desengano,
Quando já chega o outono da agonia,
Pra encontrar e gozar da luz do dia,
É que persigo o meu meridiano…

E se a vós vos parece que me ufano
Dessa linha sutil da Geografia,
Eu vos digo que é pura fantasia
A dos mapas, traçados sobre o plano.

Pois a verdade clara é que este Norte,
Desde a mais tenra infância, eu já sabia
Quanto é Luz, quanto é Santo, quanto é Forte!

E é aquele que crê, que se extasia
Durante a vida e até depois da morte,
Mais do que sonha a vã filosofia!

Lucimar Luciano de Oliveira,
Natal, 13 de março de 2014, 14:20

Roberto rebateu, com outro soneto:

MERIDIANO III

Não há meridiano verdadeiro,
Pois a verdade é das proposições,
Tampouco sul ou norte é paradeiro
Dos meridianos, mesmo nas canções…

Saber que o que se soube de primeiro
Está sempre sujeito a revisões
É ter sereno o espírito altaneiro
Pra se livrar dos erros, de ilusões…

Liberto, assim, de toda vaidade
Pode-se, então, buscar pela verdade
Que – já se sabe – não se vai achar…

Não é vã, não é vã, pra mente pura,
A beleza sem par dessa procura:
Vale a pena a verdade procurar…

Roberto Lima de Souza
Natal, 13 de março de 2014, à tarde.

E, por fim, mandei outro soneto, de resposta:

Compromisso

“Vale a pena a verdade procurar”,
Diz o poeta, em seu sonho consumado,
Vivendo cada dia nesse estado
De vã procura e inquirição sem par…

E, criando as canções que vai cantar,
Ele traz o violão sempre a seu lado,
Pois somente em delírios mergulhado
A rima e o estribilho têm lugar…

Mas quem nega, em verdade, o meridiano,
Aquela Luz que afasta todo engano,
Está sujeito às ilusões da sorte.

Eu, por mim, comprometo por inteiro
Meu coração, no anseio verdadeiro,
De navegar meus sonhos para o Norte!

Lucimar.
Natal, 13 de março de 2014.
19 horas.

Isto se deu nos idos de março de 2014, isto é, há mais de cinco anos. Hoje, não mais residindo em Natal, torno a publicar o desafio, em busca de notícias do estimadíssimo amigo Roberto Lima de Souza.

Lucimar.
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2019.meridiano